quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Ensaio filosófico – Como se faz ciência: verificando ou falsificando as teorias?

 

 

Desde o mito e as histórias sagradas que o homem procurou explicar a causa das coisas. A ciência é vista como uma forma de obter respostas acerca dos fenómenos e do funcionamento da realidade. A curiosidade é uma característica que faz parte da natureza humana, daí a pesquisa e procura do conhecimento. Assim, criamos leis, princípios, regras e teorias que tentam explicar o mundo. A estratégia metódica distingue-se da crença religiosa e do senso comum ou conhecimento vulgar, por isso a questão emerge: - Como se faz ciência? – Como trabalha o cientista no laboratório? A sua missão é verificar ou falsificar as descobertas?

 Popper, um internalista, considera que o papel do cientista se focaliza na procura e eliminação do erro. As descobertas científicas devem ser postas à prova através do método da falsificabilidade, um método que tem como objetivo procurar uma falha ou erro para posteriormente poder ser corrigido. Este trabalho dá a garantia de um aperfeiçoamento gradual de aproximação à verdade como um ideal regulador que dá ao cientista um conhecimento verosímil. Se uma teoria resistir às tentativas de refutação, então quer dizer que é uma teoria corroborada, ou seja, não demonstra falhas, tendo o cientista de continuar a tentar pô-la à prova. Já se forem encontradas falhas, as mesmas terão de ser corrigidas/ aperfeiçoadas, mais próximas da verdade, visto que para Popper, o erro é um sinal de evolução e progresso, pois a cada correção, chegamos mais perto da verdade.

Já Kuhn, um externalista, afirma que o método de Popper não é exequível, visto que um Estado jamais financiaria cientistas para destruir as próprias teorias. Kuhn acredita que a única forma real de fazer o trabalho científico é seguir os paradigmas construídos pelas diferentes comunidades científicas e trabalhar seguindo as suas leis e regras testadas e verificadas experimentalmente. A comunidade científica adota uma atitude dogmática e conservadora pois aceita o modelo científico e não abre mão dele mesmo que surjam anomalias a contrariar o modelo.  No entanto, se uma quantidade excessiva de anomalias persistir questionando a eficácia do paradigma, Kuhn define um momento de crise e a passagem para um período de ciência extraordinária. Nesta faze a comunidade investiga, explora, descobre novas soluções e testa hipóteses de resolução dos problemas para um possível novo paradigma que substitua o anterior. Depois de testado e verificado o novo paradigma passa a integrar um período de ciência normal provocando uma revolução científica. Entre o velho e o novo paradigma há uma relação de incomensurabilidade.  Jamais se deve criticar um antigo paradigma pois na visão de Kuhn, cada um serviu no seu tempo como referência na compreensão e explicação dos fenómenos.

Popper critica o método da verificabilidade que Kuhn utiliza, pois o mesmo contém diversas falhas, uma das mais predominantes sendo a utilização do método indutivo, que sempre contém margem de erro devido à sua natureza de generalização. Popper também critica toda a comunidade científica afirmando que durante o período de ciência natural, a comunidade adota uma atitude dogmática de aceitação passiva do paradigma, resultando numa estagnação. Contrariamente, Popper aprecia o período de ciência extraordinária, pois é aqui que a comunidade científica adota uma atitude crítica, disposta a corrigir o erro e criar novas teorias, sendo um período fértil e de evolução para a ciência, onde se fazem novas descobertas.

Por fim, gostaria de concordar com a visão de Kuhn neste assunto, pois mesmo que o seu método possa conter falhas, é um método que garante uma solução mesmo que não a 100% para a resolução de um problema urgente, surgindo uma teoria mais rápida e na sua maioria eficaz durante um certo período de tempo.

                                                                      Paulo Costa – Ensino Recorrente, 11ºR

1 comentário:

  1. Carlos vinicius Morais Gonçalves28 de janeiro de 2024 às 15:37

    Conhecimento Verosímil, segundo o filósofo Karl Popper, diz respeito a crenças ou teorias que são consideradas provavelmente verdadeiras com base nas evidências disponíveis. No entanto, Popper também enfatizou a importância de submeter essas crenças a testes rigorosos e falíveis. Ele argumentou que, embora o conhecimento verosímil possa ser útil em certos contextos, o objetivo final da ciência deveria ser a busca de teorias falsificáveis - ou seja, teorias que possam ser testadas e, se necessário, refutadas. Isso está alinhado com a abordagem popperiana da falseabilidade como critério de demarcação entre ciência e pseudociência.
    Carlos Vinicius Morais Gonçalves 11°R Ensino Recorrente

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